A gravidade atrai os corpos
Sábado, 7 de Maio de 2005
Simulação
Se não se desse o caso de as palavras serem formas inúteis
De dizer sobre outras formas inúteis
E de ter para com a vida uma indeterminada desilusão,
Ficaria cada vez menos descontente com o revogar das surpresas
Que, de dia para dia, o elevado índice da sede
Vai empurrando para um território neutro.
São acasos que em cada caso vão fustigando a contingência
Recolhida que está a noite na firme sensação que tudo leva.
Mas dá-se o caso de as palavras serem mesmo formas inúteis
De voltar a repetir a evidência e de a transgredir
Para lá de todo o desejo e de toda a vontade de querer.
Quando se tem na mão a destreza do futuro
Não restam muitas opções à forma como se vai contar
O que não se viu mas se quer adicionar à verdade
E, se possível, levá-la a perecer para sempre
No esquecimento comprometido de quem nada entendeu.
É assim, ou de uma maneira parecida e igualmente inválida
Que o nascimento adiado de todas as utopias
Levou um deus qualquer a já não se sentir apto
À revelação e às consequências do castigo do incerto.
Pouco importam os deuses.
Estão todos liquidados pelo arrependimento.
Apenas vivem porque, num erro de processo,
Lhes foi dada a imortalidade no jogo digital da desistência.
amm