Todos os dias cumpro o meu plano.
O ritmo e a rotina confundem-se.
À distância, no leito do descanso, ocorre-me mesmo uma certa melodia.
Como se numa dada dimensão, às coisas sobrasse significado.
Na distância que se desenvolve repetida sob os meus pés, nos caminhos que vão sendo sempre o mesmo de outros dias, vejo, pela previsão própria de não esperar, o ciclo finito da importância.
No alto de cada dia há o cansaço adequado a eliminar promessas.
Tudo o que aprendi esqueço pelas mesmas razões.
E logo a seguir há o recomeçar do silêncio.
O recado de cada hora é a expressão do seu limite.
Sei, por querer saber, a curta vida das ilusões.
Aprendi, por ignorar, que se ousasse seguir, seguiria sempre.
Vi, por me ocultar, lugares mais além do horizonte.
Perdi, por desejar, uma boa ocasião de ser sentido.
Ouvi, pelo silêncio, o cântico orvalhado da servidão.
Fugi, emparedado, do medo que todos os dias me alimentou.
Todos os dias cumpro o meu plano.
Mesmo que o meu plano são seja meu.
Mesmo que não tenha feito nenhum plano de algum dia cumprir planos.
Há uma cadência própria nos passos que marcham a favor do seu destino.
Latente, na invisibilidade há uma presença rigorosa.
A harmonia é tão aparente como o desgosto de ficar de fora.
E lá fora, no erguer subtil da tempestade, queremos ainda que sejam sinais.
Cumpro o meu ciclo de verdades.
Arrisco apenas o ligeiro ardor dos olhos.
E à noite, enquanto se fazem fogueiras para acender desejos, ocupo o meu corpo a iluminar os limites que não quer.