Não procuro o mistério nem a assombração.
Não me interessam os lugares que servem de esconderijo às lendas.
Desprezo realmente a ocultação e o truque.
Não tenho paciência para os enfeites nem para as divindades.
Aborrecem-me de morte os exercícios de adivinhação.
Não consigo olhar duas vezes para as ilusões fanáticas.
E a magia serve-me apenas para brincar.
Prefiro dizer que não sei.
Que ainda não, e que talvez nunca venha a saber.
Pensar a ignorância como o estado em que se está à espera.
Pensar o desconhecido como lugar onde ainda não cheguei.
Mas este não é hoje um lugar muito habitado.
Só veja ânsia de acreditar.
Só vejo ânsia de receber.
Dificilmente encontro alguém à procura.
É raro o rosto que aceita morar no intervalo entre a escuridão e a luz.
Perfilam-se no horizonte exércitos rigorosos a defender verdades.
Constroem-se muros a separar mundos.
Matam-se em cada reduto todos os sinais de crítica e razão.
Rendem-se os pensamentos à sabedoria enlatada.
E acredita-se, acredita-se muito, acredita-se em acreditar.
O crédito como Deus acima de todos os deuses.
Alinham-se contra uma parede os corpos que não alinham.
Estaremos a chegar ao fim da linha?
Não sei...
Não procuro o mistério nem a assombração...
Sísifo