A gravidade atrai os corpos
Quarta-feira, 27 de Abril de 2005
Bruma
Não é dramático que não se saiba.
É assim que a maior parte das vezes as coisas se passam e ninguém fica pior por isso.
Ou, se fica, é assim um ficar mal sem razão.
Uma vontade de piorar que não tem a ver com saber ou não saber.
Saber alguma coisa já seria uma espécie de extravagância.
Um protesto contra a realidade.
E, como todos os protestos, um grito em vão.
Basta saber, ainda que com reservas, que não é necessário preocuparmo-nos com o que não se sabe.
Talvez seja um jogo de palavras.
É de certeza um jogo de palavras.
Isto se não levarmos o conceito de certeza muito a sério.
E o jogo é mesmo para levar sempre a brincar.
Um jogo, como sabemos, e isto de sabermos é apenas uma maneira de falar, é sempre um jogo perigoso.
Houve um tempo, dizem, em que as certezas eram o pão nosso de cada dia.
Uma época estranha em que se tomavam as aparências por verdades, como hoje, mas em que se levava isso a sério.
Um tempo da história em que as coisas apareciam e eram vistas como possíveis.
Depois passou.
Da mesma maneira que passa uma dor de cabeça.
E voltámos convictamente à estranheza perante as distinções entre certo e errado.
Voltámos a olhar para os objectos como manifestações da vulgar urgência do espaço em travestir-se em mil e uma formas diferenciadas.
Que se lixe o espaço!
Não é trágico que não se saiba.
Nada é trágico desde que haja suficiente distância entre o fenómeno e a consciência.
Que se lixe a consciência!
amm